APCD central

Início do século XX. O progresso da Revolução Industrial chegava ao Brasil. Duas revoltas deixaram o Rio de Janeiro um pandemônio: a da Vacina e a da Chibata. A chegada de Hermes da Fonseca à presidência, em 1910, colocava em xeque a “República do café-com-leite”, dominada pelas oligarquias liberais de Minas Gerais e São Paulo, vinculadas a agroexportação. Em meio a tantas transformações na economia e na política do país, a reduzida comunidade odontológica paulistana aspirava à fundação de sua entidade representativa. Os objetivos consistiam na integração da classe, no investimento na capacidade do profissional e na oferta de serviços com mais qualidade na área de saúde bucal à população.

A luta não foi fácil. Tanto é que duas tentativas não tiveram êxito. A primeira, em maio de 1906, e a segunda, em setembro de 1908. Porém, tendo em vista a urgente necessidade de regulamentar a profissão, em 1º de abril de 1911, a história da Odontologia de São Paulo começa a ser escrita, verdadeiramente, com a fundação da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas. No mesmo ano, a APCD lançou o primeiro número de sua Revista Odontologia Brasileira. Uma das publicações científicas odontológicas mais conceituadas do país até hoje.

Sob o comando e a liderança do Cirurgião-Dentista, Gustavo Pires de Andrade, que presidiu a entidade durante seis anos, a principal luta da APCD foi a regulamentação da profissão junto ao Congresso Estadual. Nessa época, a sede da entidade teve dois endereços, ambos no centro da cidade de São Paulo: rua Barão de Itapetininga e, depois, rua São Bento.

Os anos se passaram. Estoura a Revolução de 1930, depois a Revolução Constitucionalista de 1932 e uma soma de fatos acarretam na promulgação da nova Constituição Federal em 1934, que previa a participação popular nas assembléias legislativas por categorias profissionais, bem como a formação de sindicatos. Foi nessa tumultuada década do decreto do Estado Novo, pelo então presidente Vargas, que outros grandes progressos foram alcançados, como a criação do Sindicato dos Odontologistas de São Paulo e do Conselho Científico da APCD, cujo objetivo era divulgar o conhecimento por meio de palestras e conferências.

Anos 1940. O mundo presenciou um dos maiores conflitos bélicos até então já vistos. A Segunda Guerra Mundial chegava ao fim, assolando diversas regiões da Europa. No Brasil, nova Constituição, e o povo festeja o retorno à democracia. Nesse mesmo período, acentuava-se a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa para o controle do exercício profissional da classe odontológica. Começam a ocorrer os primeiros movimentos para a auto-regulamentação da profissão. A APCD dá os primeiros passos e cria o Conselho de Defesa da Classe, que estabelece um código de ética com o intuito de orientar os associados e conduzir a Odontologia paulista e brasileira para bases mais sólidas.

No início da década de 1950, os brasileiros choram a derrota, na final da Copa do Mundo, do Brasil para o Uruguai, em pleno Maracanã. Mas, a Odontologia paulista tem o que comemorar com a criação da Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAP), na APCD, pelo então presidente da entidade, Francisco Py. Em julho de 1955, ano em que o presidente Juscelino Kubitschek assumiria as rédeas do país, a EAP é inaugurada, dotada de um consultório para aulas demonstrativas. Em 1957, acontece o 1º Congresso Odontológico Paulista.

1960 – A LUTA PELA PRIMEIRA SEDE PRÓPRIA

A história não pára por aí. O sucesso do congresso e a expansão da APCD trouxeram novas aspirações – o desejo e a necessidade de uma nova sede, mais ampla e própria.

Na década em que o mundo se viu dividido em capitalista e socialista – a chamada Guerra Fria -, mesmo período em que a Ditadura Militar se instaura no Brasil por meio de um golpe, a APCD dá mais uma demonstração de sua força. Os associados se unem em prol da compra de um imóvel para instalar a primeira sede própria da APCD. Uma grande campanha é desenvolvida ao longo de algumas gestões para a compra e reforma da sede social da entidade, localizada na rua Humaitá, quase esquina com a av. Brigadeiro Luiz Antonio, centro da capital paulista. A “Campanha do Metro Quadrado” mobilizou muitos associados e teve um grande sucesso. Com o lema “a classe coopera e luta quando a causa é nobre”, foi possível realizar uma extensa reforma da sede. A começar pela EAP, que foi ampliada e modernizada para atender, em maior escala e gratuitamente, pacientes carentes. Ação que, desde o começo, foi um dos grandes diferenciais da APCD em relação às demais entidades de classe.

Vale ressaltar também que em 1964, a APCD teve efetiva participação na luta pela criação do Conselho Federal de Odontologia. Mais um órgão para lutar pelos direitos da classe e regulamentar a profissão.

Em janeiro de 1970, foi criado o 1º Pronto-Socorro Odontológico gratuito para a população paulistana; uma iniciativa pioneira que rendeu muitas matérias na imprensa da cidade de São Paulo.

Ao lado da entidade, o Congresso Odontológico Paulista, que foi realizado pela primeira vez em 1957, para reunir profissionais e instituições da área, também crescia e passou a ser chamado de Congresso Paulista de Odontologia. A partir de 1970, começa a ser realizado bienalmente, sem interrupção. Cada vez, com maior adesão da classe odontológica. Em 2001, tamanho sucesso, tradição e repercussão em níveis nacional e mundial levam à realização anual do Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP). Hoje, um dos eventos mais respeitados na Odontologia Mundial, que se supera a cada ano em qualidade e recorde de público.

ANOS 90 – A SAGA PARA A CONSTRUÇÃO DA NOVA SEDE

Desde sua fundação até a década de 1990, foram inúmeras as conquistas e realizações da APCD nos âmbitos municipais, estaduais e federal. Mas, os anos 1990, em especial, são lembrados pelo longo e árduo trabalho que culminou na concretização de um sonho. Um grande sonho que se tornou realidade no novo milênio. Mais um capítulo importante para a história da entidade.

O crescente sucesso dos congressos, a credibilidade adquirida com as empresas, a confiança dos associados e o resultado de uma administração séria e responsável permitiram novas aspirações que foram ficando maiores e mais ambiciosas. A principal delas: a edificação da nova sede. Foram necessários 15 anos de muito empenho de todos os associados, mas principalmente da direção da APCD para vencer os obstáculos da construção da atual sede. Nesse caminho, ficou evidente o empenho pessoal dos idealistas e pioneiros desse projeto que estiveram à frente da entidade.

Num momento em que o Brasil retorna à democracia após anos de ditadura e conquista maior credibilidade e visibilidade no cenário político e econômico mundial, o destaque para este capítulo da história da APCD é para a persistente e notória contribuição de Raphael Baldacci Filho, desde a concepção do projeto até a concretização da construção da nova sede.

Foi por seu intermédio que a entidade obteve, em 1988, em comodato por 50 anos, um terreno de 5.400 m², com o então prefeito Jânio Quadros, situado entre a rua Voluntários da Pátria e a Praça Campo de Bagatelle, zona norte de São Paulo. Nomeado presidente da Comissão de Obras, Baldacci acompanhou todos os detalhes do projeto. Iniciadas as obras e já como presidente da APCD, Baldacci conseguiu a concessão de mais 2.500 m².

Alguns percalços surgiram no meio dessa trajetória. Pendências junto à prefeitura de São Paulo dificultaram o prosseguimento da obra e obrigaram a alteração dos planos, interrompendo a construção do prédio principal em três anos. Baldacci não se intimidou e priorizou a construção do Ginásio de Esportes e do Pronto-Socorro, que ocupavam o terreno da Praça Campo de Bagatelle, concluídos em 1993. Toda a área administrativa da entidade foi transferida para o subsolo do prédio do Ginásio de Esportes, o que possibilitou uma reforma total da sede da Humaitá, transformando-a inteiramente para abrigar a EAP com seus novos consultórios, laboratórios, um centro cirúrgico com uma sala ambulatorial, duas salas de cirurgia e diversas salas de aula. Dessa forma, foi possível expandir o número de cursos e o atendimento à população.

Em julho de 1996, com a Comissão de Obras já nomeada, a revisão do projeto pronta, o planejamento financeiro aprovado, a extensão do comodato para 90 anos sancionado por lei pelo então prefeito Paulo Maluf, e a reabilitação do alvará para a construção da nova sede foi possível dar continuidade ao sonho. E o melhor: de maneira segura e transparente para todos os associados de uma geração que vivenciaram os sacrifícios e investimentos para a realização desse feito.

A luta constante por recursos e o empenho diário nas obras culminaram na consolidação do objetivo inicial. Finalmente, em dezembro de 2000, a prefeitura concedeu o “habite-se” e o edifício estava pronto. A saga chegara ao fim. Mais de 19.000 m² de área construída.

Em 2002, foi realizada a inauguração oficial da Nova Sede da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, o Edifício Prof. Dr. Raphael Baldacci Filho, com a presença do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. A Odontologia paulista, enfim, tinha muito o que comemorar.

Hoje, com 110 anos, a APCD está representada em todo o Estado de São Paulo, por meio de suas Regionais e núcleos e, a cada dia, se empenha mais e mais para oferecer o que há de melhor aos seus mais de 40 mil associados.

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